domingo, 15 de novembro de 2020

Os mercados de levante: vamos às compras?

 Os mercados de levante


Sabe o que é um mercado de levante? Não? Nós explicamos-lhe: é um mercado que se monta e desmonta todos os dias. Sim, um mercado onde os comerciantes, todos os dias, montam as suas bancas de manhã para à tarde as desmontarem. Já só há um destes em Lisboa: é o Mercado de Levante de Alvalade, que esta semana entrou em obras. A Junta de Freguesia de Alvalade não só quer melhorar as condições do espaço como torná-lo mais activo , ligando-o ao pequeno jardim que existe ao lado.

O projecto é do arquitecto Rui Mendes e não vai, segundo a informação disponibilizada pela junta de Alvalade, alterar a função deste mercado. O que vai ser feito é uma cobertura sob a qual serão dispostas as bancas de venda, através das quais se poderá circular e atravessar para o espaço público envolvente, mais precisamente o jardim contíguo.

Apesar de todo o espaço ser ao ar livre, o arquitecto vai conseguir criar, com este projecto, a sensação de se estar num espaço interior (o mercado) e depois num espaço exterior (o jardim). Daí a nova designação: Mercado Jardim.

Se em tempos este já foi um mercado – e um jardim – muito movimentado, actualmente são poucas as pessoas que o procuram para comprar peixe, legumes, flores ou roupa e muito se deve às parcas condições do espaço. A cobertura vem substituir os velhinhos chapéus de sol que os comerciantes todos os dias montam. Faça chuva ou faça sol.

A requalificação do Mercado de Levante, fundado em 1949, foi uma das propostas vencedoras do Orçamento Participativo de Lisboa. Depois disso, a junta, responsável pela gestão e manutenção do mercado, promoveu um processo de discussão pública, decidindo então avançar com o projeto.

Durante os trabalhos de construção, que se deverão prolongar até ao início do próximo ano, o mercado funcionará normalmente, de segunda-feira a sábado, das 7h às 14 h.

Rua Antero de Figueiredo, diariamente (exceto ao domingo) das 07.00 às 14.00



"Viajando por diversas cidades, procuro - e facilmente encontro - os mercados mais diversos. Mercados permanentes e mercados de levante (que, justamente, se levantam de madrugada e retiram ao fim do dia). Nas cidades mais vivas há destes mercados nos mais variados locais - em praças, em ruas largas ou estreitas, em saídas de metro. Aí se vende e se expõe tudo e mais alguma coisa: frutas, pão e legumes, moda e artesanato, arte e antiguidades, livros e discos. Até ideias e opiniões. Alguns mercados são verdadeiros corações de bairros ou de cidades inteiras.

Só nos últimos dois anos, Nova Iorque instalou 50 novos mercados, quase todos de levante. Barcelona criou três dezenas nos últimos cinco anos, para além de todos os que já tinha. Os locais onde eles palpitam tornam-se mais vivos, mais interessantes. Ganha-se qualidade de vida, havendo, mais próximas, mais oportunidades. De consumo, mas também de oferta, pois assim incentivam-se novas formas de emprego. As cidades que pensam sabem que os mercados de rua são sinal de desenvolvimento e de qualidade de vida - não de pobreza e atraso.

É que vejo poucos mercados destes nas cidades portuguesas. Este país de tradição mercantil tem visto os seus mercados hiperconcentrados e hiperperiferizados, julgando que os hiper são super e que tudo isso é desenvolvimento, afinal debilitando a vida na cidade, na sociedade e na economia, não percebendo o que se pode estar a perder - e o que se poderia estar ganhar.

E com este clima! Façam-se, assim, mercados de levante, muitos e variados, e às mais variadas horas. As cidades brilharão mais e serão mais cosmopolitas. "