terça-feira, 5 de abril de 2016

Os Haikus

Haiku, ou haikai no Brasil, para designar a mesma forma poética, que remonta ao século XII, no Japão, e que, a partir do século XIX, se estende por diferentes culturas literárias. Em Portugal, tem tido cultores como Camilo Pessanha, em finais do século XIX, e na actualidade, Eugénio de Andrade, Albano Martins, ou Herberto Helder:


Primeira neve:
Bastante para vergar as folhas
Dos junquilhos.

Festa das flores.
Acompanhando a mãe,
Uma criança cega.


Monte de Higashi.
Como o corpo
Sob um lençol.



A poesia de Eugénio de Andrade (1923), poeta que nunca se integrou em qualquer movimento literário específico, caracteriza-se pelo valor dado à palavra, à imagem, à musicalidade, aproximando-o, entre outros, do simbolismo de Camilo Pessanha. 
Neste exemplo combina e integra haikus:

Tocar um corpo
e o ar
e a língua de neve.

Tocar a erva
mortal e verde
de cinco noites
e o mar.

Um corpo nu.
E as praias fustigadas
pelo sol e o olhar.


Segundo David Rodrigues, “talvez a sedução do haiku seja o seu carácter conciso. Ainda que sem uma fórmula rígida, espera-se que o haiku tenha aproximadamente cinco sílabas no primeiro verso, sete no segundo e, de novo, cinco no terceiro”. Segundo o brasileiro Paulo Franchetti, “haikai não é síntese, no sentido de dizer o máximo com o mínimo de palavras. É antes a arte de, com o máximo, dizer o suficiente”. Um mínimo que se expressa, como dissemos, numa composição de três versos, que, segundo a tradição japonesa, tem por tema a Natureza, os seus ciclos, as suas múltiplas expressões. Com o decorrer dos anos, a temática do natural foi dando lugar a outras temáticas, às mais variadas manifestações humanas e sociais.
Ora, estas considerações vêm a propósito da nova obra de David Rodrigues, publicada em finais de 2008: “Respirar – 101 haiku”. “A nossa vida – diz-nos David Rodrigues – passa-se entre uma inspiração e uma expiração. Desde a primeira vez que inspiramos o ar do mundo, repetimos durante toda a vida este movimento vital pelo menos dez vezes por minuto. O último acto da nossa vida é uma expiração, como que devolvendo ao mundo o ar que lhe inspirámos quando nascemos”. Assim, o livro divide-se, fundamentalmente, em dois grandes capítulos: “Inspirar” e “Expirar”. No primeiro, agrupam-se, segundo o autor, formas mais tradicionais, cujo sentido está, “grosso modo”, sintetizado na expressão “da Natureza para mim”. Citemos alguns exemplos:

“como mão de amigo
o Sol de Inverno
amorna os ombros”

ou:

“inspiro com a Terra
quando o vento atravessa
os carvalhos”

ou, ainda:

“no Carnaval
a amendoeira vestiu-se
de neve”


No segundo capítulo, “Expirar”, agrupam-se textos de forte centração no autor e cujo sentido se poderá condensar na frase: “de mim para a Natureza”:


“como cascas de árvore
as memórias flutuam
nas ondas da música”


ou:

“quando o Sol
entra em casa pela manhã
saio à sua procura”



David Rodrigues acrescenta um último capítulo, “Transpirar”, no qual integra poemas de carácter jocoso e erótico, como é o que a seguir se transcreve:

“não há palavra
que segurem os meus olhos –
caem para o teu peito”

Fonte:

 http://7leitores.blogspot.com.es/2009/04/haiku-haikai.html

Sem comentários:

Enviar um comentário