Haiku, ou haikai no Brasil,
para designar a mesma forma poética, que remonta ao século XII, no Japão, e
que, a partir do século XIX, se estende por diferentes culturas literárias. Em
Portugal, tem tido cultores como Camilo Pessanha, em finais do século XIX, e na
actualidade, Eugénio de Andrade, Albano Martins, ou Herberto Helder:
Primeira neve:
Bastante para vergar as folhas
Dos junquilhos.
Festa das flores.
Acompanhando a mãe,
Uma criança cega.
|
Monte de Higashi.
Como o corpo
Sob um lençol.
A poesia de Eugénio de Andrade (1923), poeta que nunca se
integrou em qualquer movimento literário específico, caracteriza-se pelo valor
dado à palavra, à imagem, à musicalidade, aproximando-o, entre outros, do
simbolismo de Camilo Pessanha.
Neste exemplo combina e integra haikus:
Tocar um corpo
e o ar
e a língua de neve.
Tocar a erva
mortal e verde
de cinco noites
e o mar.
Um corpo nu.
E as praias fustigadas
pelo sol e o olhar.
Segundo David Rodrigues, “talvez a sedução do haiku seja
o seu carácter conciso. Ainda que sem uma fórmula rígida, espera-se que o haiku
tenha aproximadamente cinco sílabas no
primeiro verso, sete no segundo e, de novo, cinco no terceiro”. Segundo o
brasileiro Paulo Franchetti, “haikai não é síntese, no sentido de dizer o
máximo com o mínimo de palavras. É antes a arte de, com o máximo, dizer o
suficiente”. Um mínimo que se expressa, como dissemos, numa composição de três
versos, que, segundo a tradição japonesa, tem
por tema a Natureza, os seus ciclos, as suas múltiplas expressões. Com o
decorrer dos anos, a temática do natural foi dando lugar a outras temáticas, às
mais variadas manifestações humanas e sociais.
Ora, estas considerações vêm a propósito da nova obra de
David Rodrigues, publicada em finais de 2008: “Respirar – 101 haiku”. “A nossa
vida – diz-nos David Rodrigues – passa-se entre uma inspiração e uma expiração.
Desde a primeira vez que inspiramos o ar do mundo, repetimos durante toda a
vida este movimento vital pelo menos dez vezes por minuto. O último acto da
nossa vida é uma expiração, como que devolvendo ao mundo o ar que lhe
inspirámos quando nascemos”. Assim, o livro divide-se, fundamentalmente, em
dois grandes capítulos: “Inspirar” e “Expirar”. No primeiro, agrupam-se,
segundo o autor, formas mais tradicionais, cujo sentido está, “grosso modo”,
sintetizado na expressão “da Natureza para mim”. Citemos alguns exemplos:
“como mão de
amigo
o Sol de
Inverno
amorna os
ombros”
ou:
“inspiro com a Terra
quando o
vento atravessa
os carvalhos”
ou, ainda:
“no Carnaval
a amendoeira
vestiu-se
de neve”
No segundo capítulo, “Expirar”, agrupam-se textos de forte centração no autor e cujo sentido se poderá condensar na frase: “de mim para a Natureza”:
“como cascas de árvore
as memórias
flutuam
nas ondas da
música”
ou:
“quando o Sol
entra em
casa pela manhã
saio à sua
procura”
David Rodrigues acrescenta um último capítulo, “Transpirar”, no qual integra poemas de carácter jocoso e erótico, como é o que a seguir se transcreve:
“não há palavra
que segurem
os meus olhos –
caem para o
teu peito”
Fonte:
http://7leitores.blogspot.com.es/2009/04/haiku-haikai.html
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